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Ai comunicação, porque te amo?!

Amanda Mesquita

Aquela linha tênue entre amor e ódio. A velocidade das mudanças. A sensação de não pertencer mais ao epicentro das ações... A inquietação tomou conta de mim e acabei por me dar por vencida. Eu perdi. Nós perdemos o jeito de entender a comunicação humana.


Comunicar é preciso. O primeiro movimento de relacionamento humano. E o que sempre foi constante pra mim, mesmo quando a internet chegou, era que estávamos dentro da área de humanas. E agora José, me pergunto se é isso mesmo. E eu mesma me respondo que não, não é mais isso mesmo não.


Muita coisa eu vi nesses últimos dois anos que me fizeram pensar em cair fora da comunicação. Primeiro porque cada vez mais eu estava escrevendo para computadores. Ter boa redação virou lugar comum. Um bom conteúdo significava códigos e métricas absolutamente insanos. E apuração, a boa e tradicional pesquisa, tornou-se algo jurássico!


Eu nunca tive a intenção de remar contra a maré. Ser contra a modernidade. Ou menos ainda não acompanhar as mudanças. Não era nada daquele famosos papo de velho "no meu tempo"... Mas eu de fato estava a presenciar uma realidade profissional às avessas de qualquer estrutura de valores pessoais - e profissionais inclusive - que eu tinha.


O que todos falam sobre amor e ódio é verdadeira. Em um mundo novo, me deparei com uma realidade bem complicada de compreender: minha profissão não existe mais. Pelo menos não aquela que eu investi cinco anos estudando, inicialmente. Eu odiava amar a comunicação.


E esse rasgo de consciência me deu da pior forma possível. Em tempos de divórcio andando no cartório e uma filha pequena pra criar sozinha, eu tive um burnout no trabalho. Estava assumindo um cargo de analista de comunicação sênior em uma empresa de grande destaque no mercado logístico brasileiro. Entrei com muitas promessas promissoras de carreira e estava confiante que toda minha experiência em comunicação corporativa iria ser muito bem valorizada.

Logo no começo, percebi um furacão de mudanças na dinâmica do trabalho. Me vi sozinha numa gerencia totalmente desestruturada, onde das quatro pessoas que atuavam comigo assim que entrei na empresa, somente eu fiquei. Todas minhas observações e indicações profissionais não eram ouvidas pela chefia e, pior, estava andando em círculos. Sem ir pra lugar nenhum.


A sensação de ver longe só me trouxe uma inquietação maior. O cenário profissional daquele momento não era apenas meu. Era de toda uma classe. Os comunicólogos tornaram-se peões de um jogo de xadrez muito mal formatado. Para as empresas, comunicar não era mais uma ação de relações humanas, mas uma ferramenta estratégica de manipulação, de imagem, de venda, de discurso vazio e incoerente.


Em vinte e quatro meses eu investi em estudar formas alternativas da comunicação, numa esperança insalubre de me conectar com uma profissão nova, onde o ser humano voltasse a ter tempo de se entender. Onde a comunicação voltasse a ser social, com olhos de ver e ouvidos de ouvir.


Descobri muita gente boa por aí. Muitas teorias e práticas reveladoras. Muitas gestões, empresas e lideranças corajosas, que investem em abordagens fora da caixa e com uma dinâmica muito mais coerente e verdadeira. Descobri que a integridade de uma profissão reside no ser que a aplica e a direciona. Descobri que amar e odiar a minha área profissional é saudável na medida que sou capaz de criticar positivamente, buscar soluções e, acima de tudo, e com uma visão bem suicída financeiramente, escolher pra quem e como trabalho.


Faço assim por amor à área de conhecimento da comunicação, para que continue a ser humana. Uma ciência que nunca foi e nunca será exata, tão complexa e tão diversa quanto a natureza humana. Faço de mim então, uma comunicóloga às avessas de qualquer regra. Com disposição para aprender e vivenciar tudo que é necessário em um mundo que só muda. Pra melhor.


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