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quarentena

QUARENTENA

Por dentro e pelo avesso de quem deu a luz

2016

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O caos cessou. As milhões de vozes na minha cabeça se foram. Eu estava sozinha. Éramos só nós duas. Todos sumiram e eu estava acordando para um novo mundo. Puta que pariu! Eu era uma mãe! Eu era uma mãe? Eu realmente tinha parido? Eu estava apavorada! Aquela pessoa ali, ainda parte do meu corpo, dependeria muito de mim. E todo aquela insanidade de parto às escuras foi muito menos intenso do que esse segundo de encontros. Adeus pausas. Eu só sabia pensar que eu não saberia ser mãe! A Julia olhava pra mim, de uma forma tão intensa e tão doce e tão aberta que me fez despertar de um profundo sono de mais de três décadas. Eu ouvi o estalo nos meus ouvidos, como um forte sino de igreja a gritar aos soluços em hora cheia por uma cidade inteira. Eu sabia que dali adiante minha vida jamais seria a mesma. Eu teria que ser mãe, sem saber como, mas teria que ser. Era eu que a colocava em meus braços, mas era ela quem me segurava. E isso foi uma péssima descoberta. Há uma verdade em comum dentro de todos nós. Uma verdade esquecida. Totalmente esquecida. Subconsciente. Fechada a sete chaves e totalmente mal resolvida. Essa verdade tem haver com nosso nascimento e renascimento. Fala-nos do princípio. Da dura chegada nessa vida. Da parte que não nos é permitido ser nada além do que nós mesmos, em pura integridade animal e total busca pela sobrevivência. Essa verdade fala-nos de sermos capazes de abstrair do mundo ainda indecifrável que nos cerca para, no meio de tanto tumulto, viver. E viver em absoluta vida, sem a menor compreensão do que ela significa ou do que significamos.

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OLIVEIRAS

2018

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São cinco mulheres. Cinco histórias. Cinco contos que se entrelaçam até sufocarem qualquer narrativa linear. Aqui nesta obra o leitor é convidado a investigar, junto de Olívia, sua árvore curativa. Elisa de Oliveira é o primeiro fio solto desse grande novelo que nasce numa vila pobre do interior de Coimbra, em Portugal. 

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